quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Bate no peito e escorre no rosto.

Escorre pelas paredes da casa as águas que caem da chuva, inevitável, inesperada, vem a chuva para um dia inteiro. Esfria qualquer plano de quem quer se aventurar, assim como esquenta quem já está pronto para amar. Chuva que aumenta o aconchego da casa, nas cortinas fechadas, no cheiro de café que sai do bule, dia com cara de sono, não pode passar sem o cheiro de bolo. O forno esquenta a cozinha, o gato se enrola em si mesmo aos pés do fogão, abraçando-se com força como se tivessem o tirando de sua cama.
Dia de chuva, dia de histórias, hoje não ouvi nenhuma mas lembro me perfeitamente das histórias que minha avó contava de sua infância no Ceará, de suas aventuras em tempos difíceis, mas que se superava tudo, pra cada tempo tinha uma história, pra cada história uma expressão, pra cada expressão, um sorriso demorado. Me sinto agora, como se estivesse deitado na rede ao lado de sua cama, balançando, olhando pra o céu da janela, sentindo o seu cheiro de vovó, ouço sua voz gargalhando a cada expressão dita. Isso sim era amor puro.
A chuva que cai ainda que esperada, ainda que se faça um bom telhado, e que não faça, se ponha remendos por toda casa, uma hora ou outra escorre suas águas pelas paredes, entra pela porta ou pela janela, mas entra. Molha, escorre, e ainda que se enxugue,alguma coisa fica pelo chão, pelas paredes e se deixa pra lá, no outro dia se da um jeito.
Assim também nos preparamos, sabemos que hora ou outra a saudade chega, nos distraímos, conversamos, ouvimos música, mas é inevitável, a saudade vem, e escorre pelos olhos, sem freio, esfria o coração, aquieta o sorriso, silencia a alma, vem quando quer e ainda que esperada, nunca conseguimos conter, jamais estaremos preparados, e escorre nos olhos o que o coração já não suporta, e ainda que enxuguemos sempre fica algo pra depois, pelo chão, pelas paredes, sempre fica e sempre fica. Mexer nisso ás vezes dói, ainda que necessário, mas sangra depois de tanto tempo, do mesmo jeito que sangra como se fosse recente, e acaba ficando pra depois.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

500GB de HD

Hoje acordei sentindo o peso do seu corpo sobre o meu, seu cheiro ainda é forte na minha cama e na minha boca, quase não sinto meu próprio gosto, é o seu que eu sinto to da vez que acordo. Quando acordo ainda dou um sorriso de canto, pois ainda te sinto em meus braços, mas é por pouco tempo, já me dou conta de que não é mais assim, solto um suspiro de lamento, mas tenho força enorme pra levantar da cama. Cada vez que fecho os olhos ainda te vejo sorrindo pra mim, isso me da falsas esperanças, de que vou te ver hoje.
Não, não é amor doído, talvez nem tenha dado tempo pra aparecer o amor nessa história, foi apenas um lance que por fim não teve frutos, dissemos um para o outro, que não foi bem assim que planejamos, mas não aconteceu. Chorar agora não adianta, e dizer isso é realmente por não estar chorando, é por estar conformado com o fato, o que posso fazer agora? A vida segue, é ruim ter que levantar desse jeito, depois de apostar sonhos e fazer planos, mas é assim que se aprende, pelo menos foi assim que aprendi até agora.
Mas eu sei que vai ser assim até eu tirar o seu gosto da minha boca, e já digo pra quem quiser entender, isso não é querer curar amor com outro amor, é ter algo novo e diferente pra pensar de manhã e antes de dormir, que me faça sorrir e continuar sorrindo o dia inteiro, eu poderia ter isso antes, mas abri mão dessa, que não nego, doida aventura, mas como já proclamado, consequências são frutos de nossos atos, aceitar é o primeiro passo pra esquecer, poderia ter sido diferente mas não foi, foi o que foi e arrependimento tardio não ajuda em nada.
Mas a vida segue, e eu não posso mudar o que já vem de fábrica, bem que eu queria mas não é assim que funciona, infelizmente tenho boa memória, principalmente quando são lembranças que me fazem sorrir, mesmo que ainda me doam, não consigo apagar fácil como um sonho qualquer. Acordo todo dia com um sorriso no rosto lembrando o que eu segurava em minhas mãos e de toda essa história insana que por um fio poderia dar errado, sinto o seu peso, o seu gosto e o seu cheiro, mas é pra apagar tudo isso da memória que eu tenho vontade de levantar, eu sei que por isso eu não morro.